quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Puta que pariu eu te amo

É amiga hoje eu estou aqui de novo, vim na sua casa porque se eu voltasse na minha eu ia quebrar TUDO, os motivos? Ah são os mesmo, pode ter certeza, você até acertou o 1° quando viu minha cara, o 2° é muito material nem tô tão puta com isso, só meu nome que daqui a pouco ta ficando sujo por causa daquele meu primeiro emprego que minha familia ficou tão orgulhosa dele, e a merda não paga a rescisão, maaaaas de booooa, sério, o que eu posso fazer quanto a isso? Nada. Então vamos ao primeiro motivo, daquela cara de qnd você me viu, que tem haver com um cara que acho que... é, isso mesmo e que raiva eu tenho de mim por sentir isso, por que eu sei que não vai acontecer nada, mesmo se eu falar pro cara!

Pois é cara, eu cansei de rir das piadinhas que você faz comigo, mesmo ate sua mãe falando: 'ó menina, se você for levar a sério o que ele fala...' É tô ferrada tiaa, tia? Não, tia não, nunca chamei de tia, mas então tia me ferrei, mas ferrei porque eu quis por que eu tô querendo levar a serio as piadinhas pra vê se seu filho pára sabe. Na verdade, eu sorrio pra agradar ele, pra ele se achar o sensacional perto de mim e os amigos deles verem e falarem: 'nossa, vocês são uma piada hein' e eu ficar feliz e pensar: 'viu cara seus amigos acham que a gnt se dá bem, vc não acha tbm?' ou pra eu deixar os amigos deles pensarem: 'Nossa o cara é foda e ela aguenta tadinha, ama ele' e quando ele fica assim todo sensacional ele fica tão lindo né tia? E amiga ele fico lindo mesmo, um dia você vai vê, mas lá no fundo é engraçado, ele é engraçadinho mesmo, eu tbm sou então não posso reclamar muito, maaas lá no outro fundo mesmoo da vontade de mandar ele ir tomar no cú bem grande (já falei, mas acho que ele levou na piadinha, normal) e mandar ele largar de ser otário e vê se ele cresce e conversa com uma mulher igual adulto.

Porque eu posso ser essa porralouca perto dele pra ele se sentir a vontade comigo e contar das trepadinhas dele e das mina que ele pega, apesar de eu ser burra, só posso me odiar, eu que puxo assunto disso, eu quero saber disso pra quê mesmo Gabi? Ah tá, pra você fazer ele te lembrar que ele é um homem (safado), que não vai ter nada com você, pra vc mesma se machucar, pra vocês tipo ficarem brothers e você poder ficar perto dele, boa. Mas calma eu tenho coração e ele ta pedindo atenção agora depois de vários meses que te conheço.

Amiga, tia, nossa puta que pariu. Cara, eu tô com muita vontade de chegar em você e dizer que eu te amo e dizer que ta ruim sim essa nossa amizade colorida que é melhor a gente parar, mesmo ela nem tendo começado direito e que não, se você não querer nada comigo, não some de mim, continua fazendo piadinha de mim, a gnt se dá bem junto lembra, mesmo as nossas conversas não serem de adultos. Sabe é porque eu acho que não aguento muito ouvir você falar da gostosona e da mulher do belo rosto que passou na nossa frente, eu aguentaria se fosse só mesmo sua amiga e soubesse que você não quer nada comigo, poderíamos até começar a colorida de novo, mas aí eu também nem sei se eu vou aguentar não lembro de ter tomado o antibiótico nos horarios certos e se isso tiver acontecido não vai adiantar nada, mas eu juro que vou cuidar pro meu coração não sentir nada por você, é porque sabe cara esse ano é o seu ano. Ano que vem pode ser que nem seja você.

Nem sei porque tô tão assim, eu não sou dessas né amiga, não sou de ficar tão apasionada assim, eu levo tudo, eu choro, eu sorrio e ainda tô vivendo. Eu acho mesmo que tô MUITO preocupada com aquele lance ainda do meu nome poder ficar sujo porque os outros não me pagam sabe e tô querendo colocar a culpa no cara, duuur ele foi até gentil hoje. E quer saber eu nem te quero tanto assim, eu só quero poder conversar com você sobre qualquer assunto sem você mandar eu calar a boca e falar que é brincadeirinha, poder te mandar menssagem assim do nada... poder ter abraçar quando eu quisesse sem você falar NADA, porque você reclama e fala demais sabe. Cara eu queria poder te ligar e pergutar se ta tudo bem e também perguntar se rola hoje da gente sair. Só isso, nem quero te apresentar pra minha mãe não, não mesmo, é capaz de você querer ela também, que odio eu te amo.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O Contrato

Combinamos que não era amor. Escapou ali um abraço no meio do escuro. Mas aquilo ali foi sono, não sei o que foi aquilo. Foi a inércia do amor que está no ar mas não necessariamente dentro de nós. A gente foi ao cinema, coisa que namorados fazem. Mas amigos fazem também, não? Somos amigos. Escapou ali um beijo na orelha e uma mão que quis esquentar a outra. Mas a gente correu pra fazer piadinha sexual disso, como sempre. E a orelha ouviu uma sacanagem qualquer, e a mão se encaixou ali no meio das minhas pernas.



Você me chamou de amor ontem, enquanto a gente transava. Eu quis chorar. Mas também quis rir muito da sua cara. Acabei só esquecendo isso. Talvez o “mô” que você murmurou, seja porque no dia anterior, naquela mesma cama, você tenha comido alguma “Mônica”. Prefiro pensar assim. Se eu for muito, mas muito escrota, talvez eu me proteja de me assustar muito. Caso você seja escroto. Eu sendo de pedra não quebro com a sua pedra. Sei lá.

Aí teve aquela cena também. De quando eu fui te dar tchau só com a manta branca e o cabelo todo bagunçado. E você olhou do elevador e me perguntou: não to esquecendo nada? E eu quis gritar: tá, tá esquecendo de mim. E você depois perguntou: não tem nada meu aí? E eu quis gritar: tem, tem eu. Eu sempre fui sua. Eu já era sua antes mesmo de saber que você um dia não ia me querer.

Mas a gente combinou que não era amor. Você abriu minha água com gás predileta e meu sabonete de manteiga de cacau. E fuçou todas as minhas gavetas enquanto eu tomava banho. E cheirou meu travesseiro pra saber se ainda tinha seu cheiro. Ou pra tentar lembrar meu cheiro e ver se ele ainda te deixa sem vontade de ir embora. Mas ainda assim, não somos íntimos. Nada disso. Só estamos aqui, reunidos nesse momento, porque temos duas coisas muito simples em comum: nada melhor pra fazer e vontade de fazer sexo.

Só isso. É o que está no contrato. E eu assino embaixo. Melhor assim. Muito melhor assim. Tô super bem com tudo isso. Nossa, nunca estive melhor. Mas não faz isso. Não me olha assim e diz que vai refazer o contrato. Não faz o mundo inteiro brilhar mais porque você é bobo. Não faz o mundo inteiro ficar pequeno só porque o seu chapéu é muito legal. Não deixa eu assim, deslizando pelas paredes do chuveiro de tanto rir porque seu cabelo fica ridículo molhado. Não faz a piada do vampiro só porque você achou que eu estava em dias estranhos.

Não transforma assim o mundo em um lugar mais fácil e melhor de se viver. Não faz eu ser assim tão absurdamente feliz só porque eu tenho certeza absoluta que nenhum segundo ao seu lado é por acaso.

Combinamos que não era amor e realmente não é. Mas esse algo que é, é realmente muito libertador. Porque quando você está aqui, ou até mesmo na sua ausência, o resto todo vira uma grande comédia. E aquele cara mais novo, e aquele outro mais velho, e aquele outro que escreve, e aquele outro que faz filme, e aquele outro divertido, e aquele outro da festa, e aquele outro amigo daquele outro. E todos aqueles outros viram formiguinhas de nariz vermelho. E eu tenho vontade de ligar pra todos eles e falar: putz, cara, e você acha mesmo que eu gostei de você? Coitado.

Adoro como o mundo fica coitado, fica quase, fica de mentira, quando não é você. Porque esses coitados todos só serviram pra me lembrar o quão sagrado é não querer tomar banho depois. O quão sagrado é ser absurdamente feliz mesmo sabendo a dor que vem depois. O quão sagrado é ver pureza em tudo o que você faz, ainda que você faça tudo sendo um grande safado. O quão sagrado é abrir mão de evoluir só porque andar pra trás é poder cruzar com você de novo.

Não é amor não. É mais que isso, é mais que amor. Porque pra te amar mais, eu tenho que te amar menos. Porque pra morrer de amor por você, eu tive que não morrer. Porque pra ter você por perto um pouco, eu tive que não querer mais ter você por perto pra sempre. E eu soquei meu coração até ele diminuir. Só pra você nunca se assustar com o tamanho. E eu tive que me fantasiar de puta, só pra ter você aqui dentro sem medo. Medo de destruir mais uma vez esse amor tão santo, tão virgem. E eu vou continuar me fantasiando de não amor, só pra você poder me vestir e sair por aí com sua casca de não amor.

E eu vou rir quando você me contar das suas meninas, e eu vou continuar dizendo “bonito carro, boa balada, boa idéia, bonita cor, bonito sapato”. E eu vou continuar sendo só daqui pra fora. Porque no nosso contrato, tomamos cuidado em escrever com letras maiúsculas: não existe ninguém aqui dentro.


Mas quando, de vez em quando, o seu ninguém colocar ali, meio sem querer, a mão no meu joelho, só para me enganar que você é meu dono. Só para enganar o cara da mesa ao lado que você é meu dono. Eu vou deixar. Vai que um dia você acredita.



Tati Bernadi